Um radar na contramão das necessidades

A CET acaba de instalar um radar dentro do túnel Ayrton Senna. Na melhor das hipóteses é marketing para enganar o público; na pior, a coisa pode ficar mais complicada e desmente que acabou a indústria da multa.

De acordo com a própria CET, entre 2012 e 2017 aconteceram 58 acidentes no túnel. A informação, como sempre incompleta, não fala quantos foram graves, quantas vítimas morreram e quantas ficaram feridas.

Mas se compararmos 1.855 dias com 58 acidentes veremos que a média é no mínimo bastante baixa. Ou, fazendo a conta de outro jeito, 58 acidentes divididos por cinco anos dá o espantoso número de 11,6 acidentes por ano, ou menos de um por mês.

Eu não sei quanto custa um radar, mas imagino que um radar que funciona dentro de um túnel não deva se barato. A pergunta que fica é: será que tem sentido instalar um radar sofisticado para inibir menos de um acidente por mês? E acidentes em sua imensa maioria sem maior gravidade. Não me lembro de nenhuma notícia ou reportagem mostrando acidentes de grande porte dentro do túnel Ayrton Senna.

Será que não teria mais sentido a CET se preocupar com os reais problemas causados por ela e que complicam o trânsito, como não pintar as faixas que separam as pistas? Ou as faixas de pedestres? Ou economizar nas placas idênticas colocadas no máximo uma a cinquenta metros da outra e que – um conhecido fez uma cotação – parece que custam para ela bem mais caro do que é pago pelo mercado?

A CET adora sacar números, aliás, sempre afinados com o prefeito e confirmando o que ele quer. Mas certa vez a USP fez uma pesquisa a respeito de motoqueiros mortos nas ruas e seus números foram bem mais altos do que os informados pela CET. Em quem você acredita? Pois é, o que a CET quer é continuar multando. Dane-se se o trânsito não anda.