Cada coisa é uma coisa

Cada coisa é uma coisa. Uma coisa são os ipês floridos, competindo com as sibipirunas floridas; outra é o que fizeram com a Avenida Paulista.

As floradas dos ipês e das sibipirunas, este ano, estão um sonho. Com flores amarelas, dividem o espaço da cidade e, apesar de termos mais ipês que sibipirunas, as sibipirunas não fazem feio. Ao contrário, dão um show que alegra os olhos de quem vê o contraste forte entre as pequenas flores amarelas e o verde intenso de suas folhas.

Se os homens nem sempre são de bem, nem sabem o que fazem, a natureza se encarrega de dar o exemplo, para nos colocar em nosso lugar. As floradas paulistanas são deslumbrantes e servem para diminuir o impacto negativo de uma cidade deliberadamente malcuidada, cheirando a urina e fezes, pichada e tomada de assalto por ambulantes, drogados, tendas, lixo e animais sem dono, como se a maior metrópole da América Latina e a cidade mais rica do Brasil devesse pagar o pecado do sucesso convivendo com o feio, o sujo, o ilegal e a má-gestão da coisa pública.

A Avenida Paulista é a rua mais bonita da cidade. Longa, reta, larga, clara, margeada por edifícios imponentes, é o cartão postal de São Paulo, eleita pelos próprios moradores.

Mas está decadente. Quase tão decadente quanto o Centro, onde a vida se transformou num show de horrores e o descaso da Prefeitura agrava a situação, um pouco mais a cada dia.

As sibipirunas e os ipês amarelos não têm nada com isso. Para eles as coisas são mais simples. Não têm eleições nas quais votam no menos ruim. Nem têm vereadores. Suas relações se limitam às aves que pousam ou fazem seus ninhos nos seus galhos, às abelhas que as auxiliam na polinização e a outros insetos que perambulam pelos seus galhos. Felizes deles que são felizes e não sabem!