Vai piorar
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Ao contrário do que o Brasil estava acostumado a ver,desta vez a catástrofe foi ampla, geral e irrestrita. As tempestades atingiramuma enorme área do Rio Grande do Sul, causando danos em mais de 300 municípios.
O Rio Grande do Sul vem sendo sistematicamente atingidopor tempestades violentas desde setembro do ano passado. Esta foi a terceira ea mais destruidora, causando danos de todas as naturezas em boa parte da regiãoda serra e do norte do Estado. Agora a destruição atinge o sul, somando novaschuvas com as águas que se acumularam no Lago Guaíba e que inundaram vasta áreade Porto Alegre.
A devastação é quase que absoluta. As imagens do quesobrou das cidades gaúchas lembram as fotos das cidades destruídas porbombardeios aéreos, durante a Segunda Guerra Mundial. E o que não estáarrasado, está debaixo d’água. Vale dizer, para a destruição aparecer é só umaquestão de tempo.
É sempre bom lembrar o passado e melhor ainda ter osdados arquivados para traçar a linha necessária para mostrar a evolução dosdesastres naturais no Brasil, notadamente, as chuvas que se abatem sobre todasas regiões do país e a seca que sistematicamente lhe faz contraponto.
Mas só olhar o passado não é suficiente. Por exemplo, asautoridades gaúchas não imaginavam possível uma cheia maior do que a de 1941. Noentanto, o que aconteceu agora superou em muito o recorde anterior e as medidasde proteção se mostraram absolutamente insuficientes, tendo como resultado ainundação de vasta área da Capital. Não é caso de culpar alguém, afinal, o paísinteiro se comporta assim, mas é caso de mudar completamente os maus hábitosnacionais e transformar o discurso de depois da tragédia em ações concretaspara, se possível, evitar os danos, se não, ao menos para minimizar osprejuízos e atender rapidamente a população atingida.
Os eventos climáticos continuarão acontecendo cada vezcom mais frequência e mais intensidade. E as áreas atingidas não serãonecessariamente as mesmas. Tradicionalmente, vasta área do território nacionalé varrida por tempestades. A tendência é acontecer mais vezes e com mais força.Então, o Rio Grande do Sul tem que ser visto como um aviso do que vem pelafrente.
Sem ações para realocar a população que vive em áreas derisco, ou ao menos para evitar que mais gente as ocupe, sem ações paraminimizar a força das águas, sem a criação de estoques estratégicos dealimentos e medicamentos e sem a criação de um fundo de catástrofe, não temcomo dizer que uma tragédia futura terá desfecho diferente da tragédia gaúcha.
O setor de seguros pode contribuir efetivamente parareduzir as perdas e permitir a reconstrução de parte das áreas atingidas, massua ação será sempre posterior aos fatos e complementar à ação do governo. Alémdisso, se as apólices podem reduzir prejuízos individuais, elas não têm comointerferir em obras como estradas, pontes e outras dessa natureza. Como astempestades seguirão acontecendo, se quisermos reduzir seus efeitos, é hora detodos conversarem a sério para tomar as medidas necessárias para o seuenfrentamento.
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