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Crônicas & Artigos

em 13/03/15

Um risco em que temos sorte

Originalmente publicado no jornal Sindseg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

Se ainda há uma área em que Deus continua brasileiro, nem que seja para confirmar a regra, essa é a da ocorrência de incêndios. Não que o Brasil não tenha incêndios, mas na maioria deles temos sorte. Quer dizer, em comparação com o que acontece nos Estados Unidos, os danos brasileiros são muito menores.

Os dois países têm incêndios em áreas rurais, mas o incêndio brasileiro costuma queimar uma reserva ou um parque, sem causar danos maiores às intervenções humanas, o que acontece também nas áreas mais próximas das zonas urbanas, onde o fogo queima as beiras de estradas, mas raramente atinge um imóvel.

Nos Estados Unidos é comum os incêndios se espalharem pelas zonas rurais, florestas e parques e, depois, se aproximarem perigosamente das cidades, queimando um bom número de imóveis nas periferias.
Além dos incêndios em zonas rurais, os Estados Unidos têm uma alta taxa de incêndios em imóveis de todos os tipos. Incêndios estes que causam danos de monta, em função do grande número de imóveis de madeira e do uso de materiais combustíveis, aliados aos sistemas de aquecimento, muitos deles baseados em óleo quente.

No Brasil, os incêndios em imóveis também acontecem, mas, apesar de não haver estatísticas sobre seu número, é certo que causam menos danos do que os incêndios que atingem os norte-americanos.

Além disso, enquanto nos Estados Unidos uma grande parcela dos imóveis está segurada contra fogo, no Brasil, tanto faz se residenciais ou empresariais, a verdade é que a maioria dos imóveis não tem qualquer tipo de seguro. E isto faz toda a diferença para as seguradoras e resseguradoras.

A incidência dos incêndios em imóveis no Brasil deve ser muito mais elevada do que se imagina, mas os danos que eles causam invariavelmente são localizados, especialmente na cozinha ou na área de serviço. É raro o imóvel inteiro ser consumido pelas chamas.

É verdade que os incêndios em favelas têm crescido em tamanho e em frequência, mas estes imóveis não são segurados. Então, mais uma vez, as seguradoras não respondem pelos danos.
A grande diferença entre os imóveis brasileiros e os norte-americanos é que lá eles utilizam sistemas de segurança muito mais sofisticados, que inibem as chamas, quer pela ação direta do equipamento, quer pelos avisos da ocorrência do fogo.

Mas os incêndios precisam ser vistos sob outro prisma, mais sério e mais caro do que os prejuízos sofridos pelos edifícios e seu conteúdo. Lá a grande preocupação são as pessoas eventualmente atingidas pelo evento. O importante é salvar vidas e não minimizar os danos ao prédio. Evidentemente que essa minimização é fundamental, mas antes de tudo porque o incêndio ficando restrito a uma pequena área ou, sendo rapidamente controlado, as chances de pessoas serem atingidas caem significativamente.

É por isso que, entre os equipamentos regularmente utilizados, está o sprinkler. As estatísticas mostram que, em incêndios em imóveis dotados de sprinkler, praticamente não há morte de pessoas. É um dado que faz toda a diferença e leva os norte-americanos a instalarem o equipamento em praticamente todos os edifícios modernos.

Enquanto no Brasil a proteção contra fogo, normalmente, se limita à instalação, invariavelmente inadequada, de hidrantes sem vistoria e, em uns poucos locais, de mangueiras, cujas tubulações nem sempre estão abastecidas com água, nos Estados Unidos o assunto é levado a sério e os equipamentos estão, na maioria das vezes, em ordem e condições regulares de funcionamento.

Então por que eles sofrem mais com os incêndios? Porque, pelo menos neste campo, Deus continua brasileiro. Depois da tragédia da boate Kiss, no Rio Grande do Sul, se falou muito, se prometeu muito, se culpou muito, mas, na prática, não aconteceu quase nada. A exceção é a nova regulamentação do Estado de São Paulo, mais rigorosa do que anterior.

As tragédias não acontecem com mais frequência porque Deus coloca a mão embaixo e, quando pega fogo, como no Liceu de Artes e Ofícios e no Memorial da América Latina, o prédio, por sorte, está vazio.

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