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Crônicas & Artigos

em 17/03/14

Será verdade?

Originalmente publicado no jornal Sindseg SP
por Antonio Penteado Mendonça

2014 está sendo visto de forma positiva pelos principais executivos do setor de seguros. Ainda que o Brasil cresça pouco, ou menos do que o resto do mundo, as previsões para a atividade insistem num crescimento de dois dígitos, mantendo o patamar dos últimos anos.

Existe toda uma série de explicações lógicas para embasar as previsões, ainda que em confronto direto com o esperado para o país, e que já vai afetando negativamente várias atividades empresariais, principalmente na indústria.

O problema é que o país está com a casa desarrumada e não tem ninguém no governo com competência ou coragem para colocar ordem. Mesmo a recente elevação da taxa SELIC em meio ponto percentual não significa que as coisas devam mudar, nem que a presidente da república deixe de interferir em assunto que ela não domina como é a economia e o comportamento do mercado.

O fato concreto é que a inflação só não ultrapassou o limite de 6,5% ao ano porque o governo segurou os reajustes dos preços controlados. Na área do superávit fiscal fez malabarismos como exportações apenas no papel, antecipação de recebimentos e adiamento de pagamentos. E no dia a dia insiste em campanhas de propaganda que vendem um peixe que ainda não foi pescado.

Com inflação em alta, crescimento medíocre e o câmbio brutalmente desvalorizado em menos de um ano, não é fora do razoável se esperar algumas consequências danosas para os diferentes setores da economia.

No setor de seguros, em 2014, é possível imaginar o aumento da sinistralidade média do mercado. Não apenas porque os roubos e furtos de veículos, de empresas e de residências mantém a trajetória de alta, ou porque as novas manifestações populares acabam em quebra-quebra, mas também porque a deterioração econômica desagua na deterioração da malha social com resultados negativos para toda a economia.

Com inflação em alta, câmbio desvalorizado e crescimento medíocre a vida fica mais cara, sem que aconteça a compensação na remuneração. Isso significa o aumento da inadimplência. Como a maioria dos bens vendidos no país é financiada, este quadro aponta para a impossibilidade de milhares de pessoas continuarem honrando seus compromissos, tais como as prestações dos automóveis comprados com prazo a perder de vista e os prêmios dos seguros para garantir estes bens.

Na medida em que o cidadão deixa de pagar seus compromissos, os prestadores de serviços não podem manter a contraprestação avençada, tais como as apólices de seguros, serviços de saúde privado, telefonia, fornecimento de energia, saneamento básico, etc., sem perder dinheiro.
Em princípio, suas obrigações deveriam ser suspensas até a regularização do pagamento, mas, na prática, não é isso que ocorre, até por força de uma interpretação jurisprudencial que protege o consumidor, às vezes, de forma exagerada, comprometendo toda a cadeia de prestação de serviços.

Mas não é só a inadimplência que pode elevar a sinistralidade. Toda crise econômica leva à queda da qualidade dos serviços de manutenção de toda sorte de bens. Como a manutenção é feita de forma deficiente ou adiada para outro momento em que o caixa esteja mais equilibrado, aumentam as chances da ocorrência de eventos capazes de gerar indenizações de seguros.
Finalmente, as fraudes não podem ser esquecidas. Não é raro em situação de aperto econômico, alguém vender um veículo segurado para um desmanche e reclamar a indenização, informando que o carro foi roubado.

Ainda que as seguradoras tivessem a capacidade técnica necessária para apurar corretamente estes casos, dificilmente elas conseguiriam cercar todas as tentativas de fraude contra seguro, aplicadas por conta da esperança da minimização das dificuldades pessoais e empresariais geradas pelo cenário adverso.

Com base nesta leitura, em teoria, ao longo do ano, há uma chance concreta do aumento da sinistralidade média do setor. Como na prática a teoria é outra, pode ser que isso não aconteça. De qualquer forma, é indispensável que as seguradoras liguem todos os seus radares para monitorar da melhor forma possível o que de fato acontece no universo dos seus segurados. É a melhor maneira delas não perderem dinheiro.

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