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Crônicas & Artigos

em 04/11/19

Seguro de veículos – Um paradoxo interessante

Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

Ao longo de 2019, os seguros de veículos estão tendo crescimento negativo. Quer dizer, ao longo do ano estão sendo vendidas menos apólices do que em 2018. Levando em conta as características deste seguro, seria lógico afirmar que as seguradoras que trabalham pesado nesta carteira estão tendo prejuízos significativos, capazes de interferirem no resultado final.

Todavia, paradoxalmente, não é isto que está acontecendo, pelo menos de forma geral e irrestrita. Algumas seguradoras que operam forte com seguros de veículos estão inclusive tendo um dos melhores balanços de sua história.

A operação de seguro é uma operação complexa, composta de diferentes variáveis que interferem no resultado do negócio. Para a conta fechar no azul, em princípio, a seguradora deveria ter um índice combinado abaixo de cem pontos. Cem pontos é o prêmio que a seguradora recebe. Deste total ela tem que abater, grosso modo, as indenizações, as despesas administrativas, as despesas comerciais e os impostos.

Se o resultado desta conta der menos que cem pontos, a seguradora estará ganhando dinheiro; se der mais do que cem, estará perdendo dinheiro. É o chamado resultado industrial, que, em época de juro baixo, faz todo o sentido ser levado a sério, mas que, em época de juros mais altos, como foi a realidade nacional até pouco tempo atrás, poderia ser impactado pelo resultado financeiro, distorcendo positivamente o resultado e fazendo que, mesmo com índice combinado acima de cem pontos, a seguradora ganhasse dinheiro. A diferença a mais entre a remuneração do dinheiro aplicado no mercado financeiro e o resultado negativo da operação de seguro seria suficiente para fazer a companhia dar lucro.

Em época de juro baixo, a situação muda e um índice combinado de cento e três pontos é suficiente para fazer a companhia, na melhor das hipóteses, empatar, cabendo ao imposto de renda comer qualquer diferença e levar a última linha do balanço para o vermelho.

Em termos práticos, a queda do faturamento do seguro de veículos deveria sinalizar a piora do índice combinado, uma vez que haveria menos dinheiro para custear uma operação de margem estreita, invariavelmente alavancada pelo resultado financeiro.

Acontece que, se de um lado há a queda do faturamento, de outro, a crise foi generosa com as seguradoras. Um número bom para mostrar isso é a queda do número de veículos roubados em São Paulo. Tomando o mesmo período, em 2018 foram roubados dezenove mil veículos e, em 2019, este número caiu para quinze mil. Ou seja, houve uma queda de praticamente 20% no número de indenizações por perda total em função de roubo.

Como a crise também diminuiu o número de veículos em circulação, houve a consequente redução do total das colisões de todos os gêneros, o que também contribuiu para a redução das indenizações pagas.

Isto significa dizer que o Brasil inverteu a ordem básica do resultado do negócio do seguro? Não, significa dizer que nem sempre o aumento do faturamento é o único dado que importa para se chegar a um resultado positivo em uma operação empresarial.

Muitas vezes, vender mais quer dizer aumentar o prejuízo, enquanto vender menos pode ser o caminho para uma lucratividade maior. Para a conta fechar no azul as variáveis que impactam o negócio devem ser dimensionadas de forma a manter o equilíbrio operacional, compatibilizando receitas e despesas de forma a gerar o superávit necessário.

No caso dos seguros de veículos, ao longo de 2019, a queda acentuada dos roubos e a redução das colisões estão, dependendo da seguradora, compensando com sobra a pequena queda do faturamento. Ou seja, este ano a carteira de seguros de veículos do mercado de seguros brasileiro deve ter um resultado melhor do que em 2018.

Como outros ramos estão se saindo bem, notadamente os planos odontológicos, alguns seguros de vida e pacotes de seguros patrimoniais, é de se esperar que em 2019 o setor de seguros mantenha crescimento consistente e sirva de base para um desenvolvimento maior ainda nos próximos anos.

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