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Crônicas & Artigos

em 24/06/16

O preço do seguro

Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

Será verdade que o seguro brasileiro é caro e as garantias limitadas? Na época das tarifas únicas, com certeza, essa era a regra. Mas a partir dos anos 1980 a situação mudou. As tarifas foram liberadas e os prêmios de incêndio apresentaram quedas importantes. Além disso, na tentativa de melhorar seus resultados, reduzindo os resseguros cedidos ao IRB, então ressegurador monopolista, as seguradoras desenvolveram “pacotes” de seguros que terminaram por enterrar a tarifa de incêndio, um documento muito bem pensado, mas que necessitava ser modernizado.
Com o fim das tarifas únicas e das regras da tarifa de incêndio, o mercado criou um sistema híbrido, onde até hoje sobrevivem antigas normas da tarifa de incêndio, convivendo harmoniosamente com as novas cláusulas introduzidas com a chegada dos “pacotes”.

O principal resultado disto foi o fim da taxação individual dos riscos de incêndio, substituída por uma taxa média comum, aplicável a todos os riscos de um determinado tipo. Se, de um lado, a solução abriu espaço para uma relativa massificação dos seguros patrimoniais, de outro, travou a contratação de seguros por uma série de empresas vinculadas a atividades econômicas tidas como “riscos ruins”.

Entre elas podemos citar indústrias químicas, fábricas de colchões, fábricas de móveis, supermercados, etc. Segundo os corretores, mais de 60 tipos de atividades econômicas atualmente encontram dificuldades para conseguir contratar seus seguros.

Isso significaria que a afirmação do início do artigo é verdadeira. E, como que para confirmar, várias atividades vivem já faz algum tempo um momento complicado para fazer seus seguros, inclusive os obrigatórios, como é o caso do seguro de incêndio.

Mas esse quadro não nasceu do nada. As seguradoras não mudaram suas políticas de aceitação do dia para a noite, sem qualquer respaldo para o que estavam fazendo. Essa história começa muitos anos atrás, na época do monopólio do resseguro, quando o IRB, justamente por ser o ressegurador monopolista, era obrigado a aceitar todos os riscos que as seguradoras lhe transferiam.

Como o mercado trabalhava com tarifas únicas, com taxas elevadas, os riscos ruins acabavam diluídos na massa de prêmio gerada pelos riscos bons, fazendo com que a sinistralidade nacional ficasse entre as mais baixas do mundo.

Com o fim das tarifas únicas o quadro começou a mudar. Os descontos oferecidos para os riscos bons impactaram o total de prêmios e a sinistralidade de incêndio subiu.

A abertura do resseguro deteriorou mais a situação. Os contratos assinados pelas seguradoras não eram mais padrões, passando a ter taxas e condições diferentes, oferecidas por diversas resseguradoras, brigando para entrar no país e se consolidar no mercado.

De outro lado, boa parte das empresas consideradas “riscos ruins” estava habituada a ter seus seguros aceitos, sem necessidade de providenciar grandes ações de gerenciamento, destinadas a minimizá-los, o que, em sintonia com a revisão das taxas, deveria ser suficiente para equacionar o problema, permitindo que a contratação dos seguros se desse naturalmente.

Não foi isso o que aconteceu. Boa parte das empresas não tomou as medidas necessárias para melhorar seus riscos. E as seguradoras, trabalhando com as taxas médias dos pacotes, também não se interessaram em reintroduzir a análise de riscos no seu negócio.

Mas se verificarmos o que aconteceu com os seguros empresarias e residenciais aceitos pelos “pacotes” veremos uma sensível redução do preço e o grande aumento da abrangência das coberturas.

Da mesma forma, se compararmos os preços dos seguros de veículos praticados no Brasil com o que acontece nos países desenvolvidos, veremos que o seguro brasileiro não é mais caro, estando mais ou menos no mesmo patamar.

É claro que existem variações para todos os lados, mas os seguros de vida em grupo e acidentes pessoais brasileiros estão, com certeza, entre os seguros de vida baratos comercializados no mundo. E em dólares, o preço dos planos de saúde nacionais também estão longe do custo médio destes seguros nos Estados Unidos.

Disso resulta que não há uma regra ou um padrão de preço que permita afirmar que o seguro brasileiro é caro. É verdade, os “pacotes” necessitam ser modernizados. Mas isso não quer dizer que os seguros custarão mais barato, ao contrário, muitos podem inclusive subir de preço.

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