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Crônicas & Artigos

em 08/02/16

Fábula de carnaval

Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

João é folião inveterado, gosta de carnaval, de cerveja gelada e de mulher quase pelada. Por isso, durante o ano inteiro se prepara física e psicologicamente para os quatro dias de folia. Analisa alternativas de lugares, festas de rua, bailes de salão, outros eventos; preços, hotéis, restaurantes e bares; condição das estradas; dengue, zika vírus, AIDS e doenças sexualmente transmissíveis; estoques de camisinhas; disponibilidade de cerveja, marcas mais encontradas; e outros pontos conhecidos e desconhecidos que possam interferir na sua festa, na alegria dos quatro dias alucinados que programa para ele.

Alcides é o oposto de João. Detesta carnaval, por isso tem por hábito “pular” os quatro dias, quer dizer, gosta de se esconder numa praia deserta ou no meio do mato, no máximo com a namorada e alguns amigos. Para ele o bom é ficar calmo, ler um bom livro, ouvir música clássica, andar na mata, escutar a vida da natureza em volta, tomar banho de cachoeira, passar um tempão no mar, lógico que tudo regado com boa cerveja, vinho branco e um uísque para beber de noite, batendo papo no terraço da casa.

Marta não tem nada com isso, nem quer ter. Tanto faz se tem carnaval, ela quer visitar a família que mora longe e por isso os quatro dias são feitos sob medida para ir e voltar, com tempo pra ficar com os parentes, curtir os amigos de infância e ainda ver os desfiles pela televisão.

Nenhum deles se conhece, mas imagine a cena. Cada um pega seu carro e sai de São Paulo, por acaso pela mesma estrada, com destinos diferentes, cada um desenhado de acordo com os gostos e vontades dos personagens desta história.

João sai de casa com dois amigos e algumas latas de cerveja gelada acondicionadas numa geladeira no banco de trás. Pra que esperar chegar? Vamos abrindo as latinhas e bebendo a cervejinha ao longo do caminho. Afinal, três horas de estrada exigem cerveja gelada pra manter a atenção e o papo em dia.

Alcides está tão no clima que quem vai dirigindo é a namorada. Entram no carro e partem com a certeza da paz nos dias futuros. Da calma, da entrega no encontro com a natureza. Do papo bom com os amigos “cabeça”, que também vão pra aventura do carnaval fora do roteiro dos bailes.

Marta tem pouca prática na direção, mas tudo bem, a cidade da família é logo ali, menos de 200 quilômetros de pista dupla e asfalto em perfeitas condições.

Os três nunca se viram e, em princípio, exceto por um acaso, não deveriam mesmo se ver. Mas os acasos acontecem. É por isso que existe seguro. Se não houvesse o imponderável, a possiblidade do impossível cair do céu em cima de nossas cabeças, não haveria razão para se contratar uma apólice para indenizar os prejuízos causados por acidentes inesperados.

Na nossa história, o inesperado aconteceu no quilômetro 154, na pista que sai da Capital. João e seus amigos iam muito bem, bebendo suas cervejinhas geladas, quando, de repente, sem aviso, foram violentamente fechados pela namorada de Alcides, na tentativa desesperada de desviar do carro de Marta, que brecou sem qualquer razão, quase parando no meio da pista da esquerda, onde, se imagina, os veículos trafegam mais depressa, conforme determina o Código de Trânsito.

Como é carnaval, a batida, que poderia ser muito séria, com mortos e feridos graves, acabou não tomando essa dimensão. Os três carros bateram, os motoristas e passageiros chacoalharam de um lado para o outro, mas, como estavam com cinto de segurança, nenhum se feriu com muita gravidade.

Dois carros tiveram perda total, o terceiro teve danos menores. Já os nossos personagens, João perdeu quatro dentes, um amigo seu quebrou a perna esquerda, Marta bateu a cabeça e quebrou duas costelas e Alcides viu a namorada ficar presa nas ferragens, mas, graças a Deus, sem sofrer ferimentos mais sérios.

Nada que a seguradora não indenize. Basta ter seguro de veículos e plano de saúde privado, para não falar no DPVAT, que, no caso, arcará com as despesas médico-hospitalares, porque é uma história de mentirinha que não quer estragar o feriado de ninguém.

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