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Crônicas & Artigos

em 24/01/14

É preciso desatar o nó

Originalmente publicado no jornal Sindseg SP
por Antonio Penteado Mendonça

Há alguns dias Jayme Garfinkel, Presidente do Conselho de Administração da Porto Seguro deu uma entrevista onde rapidamente analisou as razões que impedem o setor de seguros de atingir rapidamente um número bem maior de brasileiros. De forma direta, ele apontou alguns dos entraves, como o preço do seguro de automóveis e a dificuldade para a colocação dos produtos populares, com baixo valor e alto custo de distribuição.

Mas o dado realmente importante pode ter passado despercebido para a maioria dos leitores. O Jayme Garfinkel foi fundo ao dizer com todas as letras que o setor adoraria atingir 100 milhões de pessoas, mas que ainda não descobriu o caminho para isso. Segundo ele, problemas com cobrança e preço dos produtos atualmente oferecidos são a barreira limitadora da capacidade da atividade seguradora aumentar a capilaridade, cumprindo sua missão de proteger efetivamente a sociedade brasileira.

O recado está dado: é fundamental oferecer produtos que, por suas características, se adequem à capacidade do brasileiro. O exemplo está no seguro de automóveis, uma carteira da maior importância para um bom número de seguradoras, mas que tem menos de 20% da frota de veículos brasileira segurada.

Na outra ponta, o insucesso da comercialização do microsseguro mostra que há dificuldades também na colocação dos produtos e na forma de fazer a cobrança. Há anos o Brasil discute a necessidade de se oferecer produtos de seguros sociais para a população de baixa renda. Há anos dizem que agora vai, mas, na prática, ainda não foi. O seguro social simplesmente não decolou. O que chamam de microsseguros invariavelmente são apólices com baixo capital segurado e preço, proporcionalmente, caro.

A questão é complexa porque o Brasil engessa de forma rígida ações que, se flexibilizadas, permitiriam uma sensível redução no preço.

Como consequência da ideia de hipossuficiência do consumidor em relação ao fornecedor, se criou um cenário no qual, como o cidadão não tem competência para decidir o que é melhor para ele, alguém do Estado deve ter o poder de determinar a melhor solução, seja ela qual for, até quando deixa de representar a melhor solução para o cidadão.

É como se todo fornecedor fosse um bandido querendo enganar o cidadão. Na prática, não é isso que se vê, mas o que é a prática diante da “certeza” do boato? O Brasil se habituou a funcionar baseado em “achismos” e ações de marketing do poder público. O resultado é, entre outros, o encarecimento do produto – de qualquer produto –, onerando a sociedade com proibições ou providências burocráticas desnecessárias em qualquer lugar civilizado, onde a pessoa é considerada e sua vontade respeitada, dentro de parâmetros razoáveis previstos na lei.

Não há como cobrar a parcela do microsseguro através de boleto bancário. Então é necessário se descobrir formas de fazer esta cobrança através de outros meios de transferência de dinheiro do segurado para a seguradora.

Da mesma forma, não é possível fazer a regulação do sinistro do microsseguro. O processo poderia custar mais caro do que a indenização. Então a seguradora também precisa criar mecanismos de pagamento para o segurado que sejam viáveis dentro da realidade da operação.

No seguro de veículos o problema são as peças de reposição. Tendo que usar peças originais, o conserto de um carro com sete anos de uso pode ficar inviável, ainda que os danos não sejam muito grandes. Ora, as seguradoras não vão correr este risco. Então, o seguro de um veículo com muitos anos de uso é quase que o mesmo de um carro zero quilômetro, o que faz o custo x benefício da contratação do seguro pouco interessante para o seu proprietário.

Poderia ainda abordar a questão da quase impossibilidade da contratação de determinadas garantias. Apenas para citar, sem encompridar o artigo, temos dezenas de atividades econômicas que praticamente não encontram seguros para seus riscos patrimoniais.

Além delas, temos problemas de garantia para os riscos do agronegócio e temos dificuldades de contratação para certos riscos de origem climática.

É preciso desatar estes nós para que o Brasil tenha o mesmo padrão de seguros que os seus concorrentes no cenário internacional.

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