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Crônicas & Artigos

em 16/05/14

Além de tudo, a dengue

Originalmente publicado no jornal Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça

Insistir na violência é chover no molhado. Quando a própria polícia atira em quem corre para dentro de uma delegacia pedindo socorro está tudo errado. No entanto, foi o que aconteceu e, por conta de ter acontecido, um médico que estava lá para fazer um BO de furto de veículo acabou baleado e morto.

Quer dizer, o cenário está cinza e a ameaça de tempestade é séria. As coisas no Brasil vão mal. Vão mal na política, na segurança, nos aeroportos, nos ônibus, metrôs, trens de subúrbio, ruas das grande cidades, estradas em geral, etc. E vão pior ainda no risco de falta d’água e energia elétrica.

Isso tudo às vésperas da Copa do Mundo de Futebol, cujos estádios, apesar de lindos, não inspiram muita confiança, sobretudo pelo aspecto da segurança do torcedor.

O que vai acontecer é futurologia. Pode acontecer de tudo, como pode não acontecer nada. Por isso, é melhor martelar no certo. No caso, na chegada com força total da dengue. Veio, viu e venceu. Tomou as grandes cidades do Estado de São Paulo de assalto com a mesma competência com que já tinha se instalado na maioria das capitais brasileiras, em algumas como epidemia e em outras como endemia.

A dengue vai custar caro. Não que hoje ela custe barato, mas com o recrudescimento da doença e a chegada de uma terceira forma, mais violenta e letal, as despesas com tratamento da dengue devem mudar de patamar, pressionando ainda mais o caixa do SUS.

Como o governo faz que vai, mas volta, é pouco provável que a saúde pública receba valores capazes de fazer a diferença. Ou mesmo que consiga custear o tratamento da dengue de forma eficiente e rápida.

Hoje a rede pública está completamente abarrotada, com milhares de pessoas recebendo atendimento de má
qualidade, em função da falta de capacidade do Sistema Único de Saúde para atender a população brasileira.

O resultado desta matemática? O aumento da pressão em cima dos planos privados de saúde, tanto faz se tendo ou não tendo cobertura para os procedimentos que serão direcionados a eles.

Com certeza a ANS aumentará o rol de procedimentos cobertos, da mesma forma que o Judiciário determinará o atendimento de procedimentos expressamente excluídos.

Onde o quadro se torna dramático é que boa parte dos prontos-socorros que atendem os planos de saúde privados, em função do aumento da demanda resultante do surgimento da nova classe média, não dá conta de atender nem quem já o procura. São comuns esperas de várias horas, que enfurecem os segurados, porque os hospitais privados simplesmente não têm capacidade para atender mais pessoas.

E a situação é semelhante nos Centros de Atendimento de Urgência. As UTI’s estão lotadas e não há como colocar mais gente dentro delas porque são unidades com leitos contados, destinados a atender um número máximo de pacientes por vez, sob o risco de grave crise na unidade hospitalar.

Não adianta uma liminar determinar a imediata inclusão de um paciente numa UTI. Para ele ser internado é necessário retirar alguém que já está internado ou furar a fila dos que aguardam internação. Será que algum juiz tem o poder de fazer isso?

Mas não é só a dengue que vai piorar o quadro da saúde pública. A falta d’água, que obriga a utilização das chamadas reservas mortas, justamente por ser o fundo do poço, aumenta a chance de impurezas na água captada e, consequentemente, a probabilidade da ocorrência de novas doenças.

E o ciclo recomeça, com a cobra mordendo o rabo porque não há nada diferente que possa ser feito. A única certeza é que os planos de saúde privados, que faz tempo trabalham fortemente pressionados, em breve estarão mais pressionados.

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