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Crônicas & Artigos

em 02/05/14

A violência resistente

Originalmente publicado no jornal Sindseg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

Tanto faz o que o Governo faça, prometa fazer ou informe que fez, o fato concreto e irrefutável é que a violência continua firme em sua escalada, atingindo patamares inéditos em todo o território nacional.

Quem sabe os números mais confiáveis sejam os do Estado de São Paulo. Apesar de, na média, o estado estar bem abaixo das demais Unidades da Federação, é inquestionável que ele apresenta números desanimadores, para não dizer trágicos em relação à evolução dos crimes patrimoniais, especialmente o roubo e o latrocínio.

E o dado fica muito pior quando se sabe que mais da metade das pessoas vítimas de roubo em geral não faz Boletim de Ocorrência porque não acredita que a polícia vá solucionar o crime, além de não estar disposta a ficar horas, como já aconteceu com minha mulher, sentada numa delegacia, aguardando um atendimento que, no mais das vezes, deixa muito a desejar.

Entre assassinatos e acidentes de veículos 110 mil brasileiros perdem a vida anualmente. Para comparação, em 10 anos de guerra do Vietnam morreram 50 mil soldados norte-americanos. Ou seja, a cada ano o Brasil mata duas vezes mais do que dez anos da guerra mais sangrenta em que os Estados Unidos se envolveram depois da Segunda Guerra Mundial.

É número para ninguém colocar defeito, o que me leva a pensar se os mexicanos fazem a mesma coisa que nós, ao mostrar a violência dos cartéis de droga na fronteira com os Estados Unidos. Porque o que fazemos é tapar o sol com a peneira. 110 mil mortos por ano é uma epidemia ou uma guerra. E, se for uma guerra, não temos certeza de quem está vencendo.

Ao longo dos próximos meses o quadro pode se agravar, com resultados negativos para a imagem do Brasil, chacoalhado justamente na época da Copa do Mundo de Futebol por greves das polícias e aumento da criminalidade, como já vem acontecendo no Nordeste, com a Bahia dando a largada para um movimento que vai se espalhando pelas outras capitais.

Mais grave do que isso, os números paulistas, que impressionam pela consistência da quantidade de delitos e de seu crescimento em geral, em comparação com o restante do Brasil, podem ser considerados razoáveis, com a conta proporcional por 100 mil habitantes francamente favorável ao Estado Bandeirante.

Nenhuma seguradora gosta de atuar num cenário como esse. A violência brasileira é ruim para todos os ramos de seguros. Não é somente automóvel que sofre em função dos roubos e furtos, complementados pelos acidentes com e sem vítimas. Os seguros patrimoniais têm seus resultados comprometidos pela onda de crimes que assola o país. Os seguros de vida ficam mais caros em função dos assassinatos e das mortes no trânsito. A mesma coisa acontece com os seguros de acidentes pessoais. E com o DPVAT, o seguro obrigatório de veículo automotor terrestre.

O dado realmente ruim é que não há nada no horizonte que sinalize uma mudança de tendência. Ao contrário, se o Rio de Janeiro servir de ponto de partida, a reação do crime organizado à ocupação das comunidades pela polícia pacificadora não indica um final feliz para essa novela.

No Maranhão, o Presídio de Pedrinhas colocou o Brasil na imprensa internacional em função do elevado número de mortes. Em Salvador, a greve da polícia fez explodir o número de assassinatos. Brasília tem um dos piores indicadores do país e, lamentavelmente, Porto Alegre não fica muito atrás.

Como se não bastasse, o campo assiste a criação de um conflito artificial, criado na maioria das vezes por funcionários do Governo Federal, envolvendo proprietários rurais, posseiros e índios. Além disso, as fazendas e os sítios se transformaram em cobiçado alvo de bandidos, que invadem as propriedades e roubam o que encontram pela frente, de produtos agrícolas a máquinas, passando por fertilizantes e o mais que houver.

Quer dizer, entre mortos e feridos, não há como os seguros custarem barato.

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