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Crônicas & Artigos

em 09/03/15

Pedras em todo o caminho

Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça

No final de 2014 publiquei aqui o artigo “Pedras no Meio do Caminho”, no qual analisei o crescimento da AIDS entre os jovens brasileiros. É uma realidade dramática, que precisa ser enfrentada para evitar o crescimento dos custos sociais e econômicos de uma doença que não tem cura, mas tem todas as possibilidades de controle, também entre os jovens, com o mesmo sucesso com que o Brasil enfrentou a epidemia da AIDS no seu aparecimento, décadas atrás.

Como o crescimento da AIDS entre os jovens é dramático, sua notícia consegue algum espaço na grande imprensa. Porém, há outra epidemia, muito mais devastadora, que corre solta desde as grandes cidades até as menores localidades, sem que a sociedade atente para ela. É a explosão das drogas.

Alguns anos atrás, o Brasil era um grande corredor de exportação de maconha e cocaína. Mas a realidade mudou e rapidamente o país se transformou num dos maiores consumidores de drogas do mundo.
Não é preciso muito esforço para ver os resultados disso. Basta andar pelas grandes cidades brasileiras, especialmente São Paulo, para encontrar drogados de todas as idades, com ar apalermado, vestidos com trapos, perambulando pelas ruas, parecendo zumbis de filmes B.

Mas não é só nas grandes capitais que a droga se espalha como fogo em capim seco. Todas as cidades brasileiras estão tomadas pelo crack. É um quadro apavorante porque, com ele, chegaram também a desestruturação familiar, a violência, os problemas de saúde pública, o drama social.

Fácil de produzir, barato, capaz de criar dependência praticamente desde a primeira vez que é consumido, o crack é a principal ferramenta e a ponta de lança para o tráfico se estabelecer em todo o território nacional. O que tem sido feito com competência e rapidez, sem que, até agora, as autoridades tenham tomado qualquer providência mais séria para combater a epidemia, que em algumas localidades já se transformou em endemia.

É desolador ver crianças, jovens, homens e mulheres de todas as idades serem comidos vivos pelo vício. Mas mais desolador ainda é saber que um número cada vez maior deles morrerá, inexoravelmente, vítima da droga.

O problema não é de polícia, ou melhor, não é apenas caso de polícia. É óbvio que a polícia tem que combater energicamente o tráfico, atuando desde a vigilância nas fronteiras até a identificação e o fechamento das bocas e pontos de distribuição.

Todavia, tão importante quanto o combate ao tráfico é a criação de uma política social focada no problema. Não só ações pontuais, cheias de boas intenções, como a promovida pela Prefeitura de São Paulo, mas um programa de longo prazo, com objetivos mensuráveis, começo, meio e fim, além de verbas garantidas, ações educacionais, atendimento à saúde e à família, apoio e suporte aos viciados, com a presença do Estado de forma concreta e visível no seio da sociedade.

Por que eu entro neste tema? Porque a epidemia das drogas bate de frente com o setor de seguros, sendo responsável pelo aumento dos custos sociais em geral e pelo aumento das indenizações de todos os tipos em particular.

Nos mais de 50 mil assassinatos anuais, nos mais de 60 mil mortos no trânsito, no número crescente de roubos, furtos, latrocínios e estupros, que são outra epidemia que assola o Brasil, em todos eles a marca da droga é uma constante.

E ela vai além, com consequências de todas as naturezas afetando diretamente as contas dos planos de saúde privados, dos seguros patrimoniais, de veículos, de acidentes pessoais e de vida.

Mas a grande conta quem paga é o Brasil. Milhares de pessoas, todos os anos, caem vitimadas pelas drogas. Eu não sei quantos brasileiros sentem na pele os seus estragos. Quantos são os viciados, os familiares, as outras pessoas que são afetadas direta ou indiretamente por este flagelo.

No passado, os Estados Unidos foram vítimas de uma epidemia semelhante. E eles deram conta dela. É mais do que hora do Brasil enfrentar seu problema mais grave. Uma forma de começar é ver o que outros países fizeram.

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