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Crônicas & Artigos

em 15/05/20

2020 não tem mais jeito

Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

O ano está condenado. Não tem o que fazer. 2020 vai entrar para a história como um dos grandes desastres econômicos do século 21. O mundo experimentará uma das maiores recessões de todos os tempos e o Brasil não vai ficar de fora, nem se sair melhor do que os demais países. Ao contrário, as previsões para a recessão nacional têm variação de menos quatro a menos onze por cento em relação ao ano passado, o que faz de 2020 o pior ano do século.

A economia mundial vai atravessar uma recessão avassaladora, que quebrará milhares de empresas de todos os portes ao redor do planeta. Mas esta é só a primeira parte do drama. A segunda é o tamanho da conta e quem e como vai pagar os trilhões de dólares que a pandemia do coronavírus custará.

As poucas certezas são que o mundo sairá mais pobre, que milhões de empregos já estão perdidos e que a recuperação pode demorar mais tempo do que os otimistas estão falando, até porque ninguém sabe a duração da pandemia.

Se países como Estados Unidos e China tiveram queda no PIB na casa dos dois dígitos, na comparação entre abril e março, não há razão para o Brasil se sair melhor.

Tomando a indústria automobilística como parâmetro, se em março ela apresentou uma queda de vinte por cento no número de veículos produzidos, em abril a queda foi de setenta e cinco por cento. Ou seja, praticamente não houve venda de veículos novos no país. Mas este segmento econômico vai muito além da produção de veículos. Ele tem início na indústria siderúrgica e termina nos desmanches e ferros velhos, além de toda uma cadeia paralela que não participa diretamente da produção, mas engaja uma grande quantidade de pessoas, que vende ou presta serviços para empresas e pessoas ligadas à cadeia automotiva.

Só que não é apenas a indústria automobilística que está em xeque. Praticamente todos os demais setores industriais estão num profundo processo de retração. O coronavírus veio para agravar um quadro dramático, iniciado com a crise de 2014, que colocou a indústria nacional sob ameaça de colapso. Quando apenas algumas atividades começavam a colocar a cabeça para fora, a pandemia trouxe em seu bojo uma nova onda, que submergiu os que ensaiavam nadar e ameaça afogar definitivamente os que ainda estavam tentando chegar à tona.

Os números do primeiro trimestre de 2020 mostram resultados positivos na última linha dos balanços de várias seguradoras. É inclusive possível que, dependendo do foco de atuação da companhia, ela feche o primeiro semestre com resultado positivo. Mas isto não significa que depois de março seu desempenho foi positivo. Significa apenas que os números positivos, frutos da recuperação econômica de 2019 e que se mantiveram em janeiro e fevereiro, impactaram favoravelmente os resultados do primeiro trimestre, seja pela obrigação do diferimento dos prêmios, seja pelo seu fracionamento mensal.

A queda brutal da venda de veículos novos tem impacto na carteira de seguradoras que têm o seguro de auto como carro chefe. Com o desemprego, o inadimplemento dos prêmios dos seguros individuais cresceu para percentuais muito elevados. Seguros como fiança locatícia, que sempre tiveram baixa sinistralidade, estão sob pressão pelo não pagamento de milhares de alugueres. Com a queda da atividade econômica as empresas também começam a não pagar ou a reduzir suas importâncias seguradas e, consequentemente, os prêmios devidos.

O fechamento de milhares de empresas vai gerar um novo atrito entre segurados e seguradoras, envolvendo eventual cobertura de lucros cessantes. E os planos de saúde privados e os seguros de vida já estão sendo demandados em função da pandemia.

Como a crise econômica deve se agravar ao longo dos próximos meses, não há como vislumbrar, neste momento, qualquer possibilidade de retomada do crescimento pelo setor de seguros brasileiro.

Se servir de consolo, a situação não é exclusividade nossa. No mundo inteiro as seguradoras terão dias difíceis pela frente. A saída do buraco passa pelas ações pós-pandemia e pela capacidade delas se reinventarem.

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