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Crônicas & Artigos

em 12/02/18

Todo cuidado é pouco

Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

Estatísticas da Polícia Rodoviária Federal apontam o carnaval como o feriado em que acontece o maior número de acidentes nas rodovias e, consequentemente, o que tem maior número de vítimas fatais. Nem poderia ser diferente. A páscoa também é um feriado longo, mas é um feriado religioso, que remete à reflexão, à introspecção, ao encontro com o divino e ao acerto de conta dos nossos erros.

Quer dizer, é um feriado onde as pessoas cometem menos exageros, se comportam de forma a respeitar a troca da morte do Cristo pela salvação da alma.

O carnaval é o contrário. Aliás, na sua origem, o carnaval servia como contraponto aos sacrifícios da quaresma. Era o momento de liberdade quase absoluta para compensar os rigores exigidos pelas penitências previstas para os 40 dias que antecedem a páscoa. Hoje, no Brasil, mal e mal se fala em não comer carne nas sextas-feiras da quaresma, mas houve tempo em que as penitências eram muito mais rigorosas, chegando ao flagelo do corpo, como ainda se vê em algumas partes do mundo.

O carnaval, na origem uma festa pagã para comemorar o fim do inverno e o retorno da vida, foi transformado na válvula de escape, no momento em que se pode tudo, em que não há pecado, em que a vida pode ser gozada intensamente, sem barreiras ou freios morais. É a antiga bacanal grega introduzida no cristianismo como parte importante do jogo de pesos e contrapesos indispensáveis para o funcionamento da sociedade.

Se praticamente ninguém se lembra mais dos rigores da quaresma, de outro lado, não se perdeu a noção da festa, dos excessos permitidos e perdoados. O resultado é o carnaval ser, pela própria natureza e pela duração mais longa, o feriado com maior número de acidentes, não só de trânsito.

No carnaval o excesso é superlativo. Se bebe mais, as correias de contenção moral são afrouxadas, a possibilidade de todas as possibilidades empurra para frente, faz andar na borda do abismo, sem medo das consequências, ainda que invariavelmente elas tragam dor e sofrimento para o agente e para os que estavam em volta e foram atingidos, sem ter nada com isso.

A irresponsabilidade que faz parte do dia a dia dos acidentes de trânsito brasileiros no carnaval sobe alguns tons e em praticamente todos os acidentes há na causa o consumo de bebidas alcoólicas ou drogas, somadas ao cansaço, à falta de atenção e à excitação que faz o cidadão, por exibicionismo, deixar de lado qualquer resquício de bom senso ou respeito pelo próximo.

O grande drama é este. Invariavelmente, gente que não participa da festa paga o pato. A maioria dos acidentes de trânsito envolve outros veículos que estavam próximos, trafegando dentro das regras e com os cuidados necessários.

É por isso que no carnaval todo cuidado é pouco, especialmente nas estradas brasileiras. Boa parte dos milhões de veículos que entram nelas é dirigida por motoristas com pouca prática, a manutenção dos automóveis é precária, as condições das pistas nem sempre são as ideais, a sinalização é insuficiente e os alucinados de plantão imaginam que estão em algum autódromo e que são os heróis da vez, capazes de fazer coisas de que até Deus duvida, para mostrar que são o que não são, por porre ou apenas estupidez.

Há casos em que a tragédia acontece independentemente da vontade do cidadão.

Ele está no lugar errado, na hora errada e isso basta, seja um acidente de trânsito ou uma bala perdida. Não há o que fazer, ninguém escapa do seu destino. Mas alguns cuidados podem minimizar as chances de um acidente. Entre eles, não dirigir após ingerir bebida alcoólica, não trafegar próximo dos locais em que a festa corre solta, prestar atenção na manutenção do carro, respeitar os próprios limites e os limites da via, não querer ser corajoso e não entrar em rachas são medidas que, com certeza, aumentam suas chances de chegar em casa são e salvo.

Além delas, não custa nada ser esperto e não entrar em brigas. Não reagir a um empurrão ou uma encarada. Deixar para lá e curtir a festa. Afinal, o carnaval pode ser muito bom e se dar bem não tão difícil assim.

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